Foto by: Pedro Camara.
Nasceu o dia. Estes não são mais que textos... a ideia? colocar-me no lugar de uma idosa num lar e no lugar da filha que "perde" a mãe. Não sei se será isto que sentem, não sei se são estes os sentimentos que passam nos seus corações e mentes. Sei apenas que foi isto que o meu coração escreveu...
Por entre paredes caiadas de branco
E sonhos pintados de cores,
Relembram-se memórias de tempos passados.
A porta de um castanho escuro, pesado, abre-se
Por trás surge a tua imagem, outrora radiante, agora pálida e cansada.
Com um olhar de criança triste mas que ainda assim brilham
Esboças um sorriso sem fim...
É tão saborosa esta companhia.
Com pele enrugada, marcada pela vida
Contas em cada ruga uma história
Em cada mancha da pele, contas um tempo passado.
Em cada gesto trémulo, mostras uma hora de felicidade,
Em cada pestanejar lento contas um sonho realizado...
Em cada fôlego que dás, vives de novo.
Segues passo a passo um caminho lento,
segues passo a passo a direcção da luz,
Onde te esperam e te dão a paz.
Custa ver-te seguir esse caminho e,
Por falta de coragem deixo-te sozinha.
A assiduidade é cada vez menor,
A atenção parece desaparecer,
Não por falta de amor,
Mas por não querer aceitar
Que se perca assim tão facilmente
O que se leva toda a vida a ganhar.
A porta abriu-se e lá estavas tu,
Mto sentada tal qual uma boneca,
A boneca que criei com todo o coração.
Os meus olhos, cansados e velhos,
Senti-os brilhar como nunca
É incomparável a felicidade de ter aqui.
As tuas palavras,
As fotografias dos pequenos,
Os sonhos que tens,
As alegrias e tristezas que me contas.
Contudo, tenho dificuldade em ouvir tudo.
Quero tanto absorver tudo o que me dizes,
Do mundo que outrora fora também meu,
Mas este corpo velho e debilitado, limita-me,
Não me permite memorizar tudo e perco-me algures.
Já me dei conta de acordar
Sentada na velha cadeira do quarto
E ver-te olhar pela janela silenciosamente,
Sem perceber se os pensamentos que te assombram
São alegres ou felizes.
Será que ficou algo por fazer?
O tempo passa e chega a hora de te ires embora
Prometes que voltas assim que puderes
Mas as visitadas distanciam-se cada vez mais.
Sinto-me ficar sozinha mesmo sendo bem tratada.
Sinto-me inútil.
A porta fecha-se mas prometes voltar.
Mas não voltaste...
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Cátia