Ando às voltas na cama a tentar compreender o que se passa comigo. Não consigo dormir. Não consigo parar de pensar e no entanto não penso em nada. Não penso em ninguém. Sinto-me encher e explodir de uma forma incompreensível. Sinto-me chegar ao ponto em que tenho de dizer basta pois já puxaram demasiado. Sinto-me chegar ao ponto em que já não tenho nada para dar pois já levaram o meu coração, esgotaram a minha mente e abanadonaram o meu corpo. E no fim não ficou nada pois nada foi dado. Ou talvez muito tenha sido dado... só não foi dado nas mesmas quantidades que levaram e eu acabei por esgotar, por me cansar e pareço não ter forças sequer para ir em frente com o que pretendo e nas coisas que dependem unicamente de mim.
Senti saltar a tampa, senti virarem-me as costas nos momentos em que mais precisei e senti-me permanecer tal e qual uma rocha sem transmitir a desilusão do momento, a desilusão de ver aqueles que me ocuparam a mente e o coração por tantas vezes, estarem demasiado ocupados para darem um pouco deles. Senti-me como pedra fria sem poder quebrar e gritar, sem poder dizer o quanto foram injustos, sem poder mostrar a parte de mim que poucos, muito poucos conhecem.
Com o passar dos minutos sinto-me enfraquecer, sinto-me a aguentar um mundo que não é o meu, sinto-me a mostrar uma pessoa... que simplesmente não sou eu. Uma pessoa forte que perdeu o sentido da vida e especialmente perdeu um dos maiores valores do ser humano: a confiança.
Talvez esteja a ser demasiado dura comigo e com quem me rodeia. Talvez esteja só a precisar de uma mão que me puxe para cima e me tire de um fosso que começa a ser demasiado grande para que não me afunde. Talvez seja apenas cansaço. Talvez seja apenas desilusão. Talvez seja só eu a perder-me mais uma vez, para me reencontrar e descobrir em mim forças que nunca pensei existirem.
O que quer que seja, não me permite dormir. Não me permite pensar. Não me permite esquecer.
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Cátia